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domingo, 24 de janeiro de 2010

Como nos conhecemos.

Amigos e familiares vez em quando perguntam como conheci Talles, e como se desenvolveu a nossa amizade até chegar a um namoro. Não responderei ambas perguntas, por não querer formar uma resposta tão extensa. Mas responderei aqui a pergunta que acabaram de me fazer no meu Formspring: "Como você conheceu o seu namorado?"

No ano de 2008, decidi fazer um cursinho de nome NEA, do GEO. As aulas iriam começar logo no início de fevereiro, então, até o dia das aulas, eu estava ajudando minha mãe com as coisas do dia-a-dia (comprar isso e aquilo, arrumar coisas na casa, fazer pagamentos...).

Fomos à feira do Bairro dos Estados. Minha mãe estacionou o carro perto de algum estabelecimento para onde iria, e disse para que eu ficasse lá, porque seria rápido. Enquanto eu esperava, descansei o olhar pra qualquer canto, e percebi um rapaz descendo umas escadas dali perto. Era uma academia, e as suas vestes denunciavam tal localização. Ele era muito bonito, e me chamou a atenção. Tinha no rosto um semblante sério, quase que triste, e não olhava pra lugar nenhum que não fosse sua fronte.

Lembro que virei o pescoço para vê-lo passar por trás do carro e seguir o seu caminho. Até que o perdi de vista. Daí, foi o tempo que a minha mãe voltou, e saímos novamente. Voltei pra casa, e pensei naquele garoto por uns dois dias. Já fazia um bom tempo que eu não via pessoas tão bonitas na minha cidade.

Duas semanas depois, se não me falha a memória, iriam começar as aulas do NEA, no período da tarde. Na terça-feira, pela manhã, acompanhei minha mãe nos seus afazeres rotineiros, e voltamos ao mesmo lugar, no bairro dos Estados. Ela estacionou o carro no mesmo lugar, e fez o mesmo pedido para que eu ficasse, pois ela voltaria logo. Lembrei do garoto da escadaria, e olhei algumas vezes pra ver se ele desceria novamente por aquela escada, numa feliz coincidência.

Desisti, afinal, seria coincidência demais vê-lo outra vez tão facilmente, duas semanas depois. Talvez ele nem fosse daqui. Talvez fosse primo de um ou de outro, talvez estivesse passando férias, talvez, talvez. Desencantada, me deitei no banco e olhei pro nada. De repente, minha visão se fixou no retrovisor esquerdo do carro, e vi de relance uma silhueta masculina passar por aquele vidro salpicado de chuva. Virei o tronco para trás, e avistei ele, novamente. Short e regata, com o mesmo semblante, o mesmo modo de andar e o mesmo olhar retilíneo.

Acompanhei cada subir de degraus com os olhos, e talvez com a boca aberta, até que ele entrou na academia. Por momento nenhum, quis que ele me notasse. Eu pertencia a outro, e provavelmente ele também. Mas tinha uma beleza tão singela, daquelas de se admirar. Não o olhei com maldade nem tampouco o cobicei, mas gostava do que via, embora aquele momento tivesse durado poucos segundos.

Minha mãe retornou ao carro, e fomos para casa almoçar, pois mais tarde eu teria a minha primeira aula do NEA (havia faltado o dia anterior). Tomei banho, troquei de roupa e almocei, pensando no tal rapaz. Que coincidência. Como eu nunca havia notado-o, numa cidade tão pequena como a minha? Ele deveria frequentar os mesmos lugares que eu, então, por que nunca tinha encontrado-o em qualquer canto?

Entrei na sala, e a aula ainda não havia começado. Sentei ao lado de uma amiga, provavelmente a única conhecida naquele lugar, na segunda e na terceira cadeira da fileira do canto direito. A sala estava lotada, e lembro que não desci na hora no intervalo, pois decidi colocar os papos em dia com Lívia, pois não era certo ela continuar no cursinho.

Na quarta-feira, cheguei cerca de meia hora antes da aula, e quase ninguém havia chegado. A cada minuto, a porta de abria, e entrava ali mais um desconhecido. Até que entrou um rapaz cujo rosto não me era estranho. Estava de óculos escuros e com uma mochila em um dos ombros. O mesmo andar, o mesmo semblante, e se não fossem os óculos, diria que o olhar era unidirecional. Ele caminhou até o final da sala, jogou a bolsa em uma cadeira e sentou em outra. Tirou os óculos, guardou na mochila, apoiou o pé em uma cadeira e esperou, como todos nós, o professor chegar para a aula começar.

Agora que éramos colegas de sala, eu não poderia mais olhar pra ele, mesmo que inocentemente, afinal, provavelmente despertaria comentários desnecessários. Parei de olhá-lo, temendo que o próprio me notasse. Mas eu não sentia nada, ali, olhando para ele. Era como olhar uma escultura, uma boa pintura, um desenho vistoso. Eu admirava os traços do seu rosto, as linhas do seu pescoço, seus ombros e esquadro largos, e o corpo alto e magro. Me satisfazia vê-lo. Mas havia de me privar de tal alegria, ora, pois eu pertencia a alguém.

Passaram-se meses, e o olhava muito pouco. Mentira se dissesse que não arriscava uma olhadela discreta numa aula de slides, ou quando cruzávamos o corredor. Nunca nos olhamos, pois sempre que o olhava, tinha a cautela suficiente de verificar se ele não estava me olhando de volta. Um encontro de olhares era completamente inaceitável, pois aparentaria um flerte, e isso era tudo o que eu menos queria.

Em abril, creio eu, uma das meninas do cursinho que estava por se tornar uma amiga (Viviane) perguntou quais garotos da sala eu achava bonito. O sortimento de beleza naquele ambiente era enorme, mas somente pro lado das mulheres. Quase nenhum homem era bonito, ou simpático demais para fazer a beleza diminuir de tamanho, perto da sua personalidade cativante. Não sabia ao certo o nome de todos da sala, menos ainda dos meninos, pois falava com poucos deles. Perguntei quem era aquele que sentava lá atrás, que naquele dia estava usando uma camisa preta.

- Aquele é Talles. Ele tem namorada, viu? E a namorada dele é bonita, muito bonita.

Evidente que ele teria namorada, e que esta seria à altura dele.

- Vivi, eu também tenho namorado.

- Ah, é mesmo. Mas eles namoram há muito tempo, uns quatro anos, coisa assim. E ela é linda, mulher, tem um corpão, um cabelo enorme, bem bonito mesmo, e parece que é modelo e blá blá blá..

Desconsiderei a informação inicialmente, e depois pensei em como ela seria fisicamente, se era tão bonita quanto ele, ou se era mais. Se formavam aquele casal perfeito que todos admiravam, se tinham um relacionamento invejável, ou se discutiam por bobagens, como eu e o meu namorado, se o pai dela a proibia de saídas, como o meu, ou se ele recusava a entrar num restaurante francês porque odiava a frescura de tais lugares. No meu pensamentos, eram ambos bonitos, se completavam o suficiente e tinham um caminho traçado até o fim de suas vidas - juntos.

Naquela noite, pensei neles. Embora não fizesse idéia de como era seu rosto, figurei a tal desconhecida e deixei minha cabeça brincar de Barbies. Ilustrei situações na minha mente, e invejei sutilmente aquele relacionamento bonito. Adormeci. No dia seguinte, optei por não pensar mais nele, nela ou em ambos. Me determinei a pensar no meu namoro e a tentar fazer dele um namoro bonito de se ver, como devia ser o deles.

No mês de julho, depois de ter mudado radicalmente meu visual, passei a sentar na parte de trás da sala, porque estávamos em período de férias, e as aulas estavam mais pra balbúrdias estudantis que preparação vestibulesca. A quantidade de aulas era reduzida, professores faltavam, e o coordenador raramente aparecia. Naquela época, ele falou comigo pela primeira vez. Mas parecia que eu já o conhecia antes, de tanto vê-lo, admirá-lo e imaginá-lo com sua amada.

Acabei por deixar meus pensamentos se confundirem, e tomei uma certa liberdade nos primeiros contatos com ele. Conversávamos sempre, e em pouco tempo, criamos um vínculo de amizade, a ponto de conversar sobre os nossos relacionamentos. Nessa época, o namoro dele era o contrário da imagem que eu formulava, e ele me revelou certos problemas entre eles, segredos e confissões, e eu o fiz o mesmo, abrindo o meu coração e sendo bruscamente sincera sobre o meu atual relacionamento.

Estávamos nos entendendo. Tínhamos tanta compreensão um pelo outro porque ocupávamos lugares distintos ao lado de nossos cônjuges. Precisávamos dar um fim à situação em que nos encontrávamos, separados, para o nosso próprio bem, e aquela amizade recente nos servia de combustível para fazê-lo.

O namoro dele terminou antes do meu, que se deu fim em meados de outubro. A vida continuava, bem como a nossa amizade. Éramos um tanto inseparáveis, o que despertava comentários direcionados a cada um de nós. O contato maior deu início a rumores, e aos poucos, percebi que ele estava me olhando de uma maneira diferente da que me olhava. Demos os primeiros passos, e os nossos amigos faziam ar de contentação ao ver-nos juntos.

Os pedidos de namoro surgiram, e as negações temporárias também. Até que, em vinte de dezembro daquele ano, decidi aceitá-lo para chamar de "meu", e é por esse pronome que o chamo, até então.

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